Feições decadentes: uma leitura de Estive em Lisboa e lembrei de você
DOI:
https://doi.org/10.47295/mgren.v13i2.1400Palabras clave:
Luiz Ruffato, Semiperiferia, Déficit de realidade, Intertextualidade, Fernando PessoaResumen
Em 2009, o escritor Luiz Ruffato publicou a novela Estive em Lisboa e lembrei de você, cujo protagonista, o mineiro Serginho, após recorrentes fracassos, decide migrar para Portugal. Durante a narrativa, são apresentadas personagens portuguesas, que, apegadas a um passado de conquistas, demonstram dificuldades em lidar com a realidade em que vivem. Diante disso, o objetivo deste trabalho é verificar em que medida algumas personagens lusitanas de Estive em Lisboa e lembrei de você são caracterizadas por um déficit de realidade e como, frequentemente, na narrativa, a Portugal é endereçado o rótulo de país decadente. Além disso, analisamos a produtividade do diálogo com Fernando Pessoa para a feição decadente do protagonista. Para tanto, foram lidos e analisados os seguintes textos literários: Estive em Lisboa e lembrei de você e o poema “Tabacaria”, de Fernando Pessoa-Álvaro de Campos. A fim de investigar a representação de Portugal como um país decadente ou periférico, buscamos suporte teórico em Boaventura de Sousa Santos (2003) – em cujo texto “Entre Próspero e Caliban: colonialismo, pós-colonialismo e interidentidade” afirma que, desde o século XVII, Portugal ocupa uma posição semiperiférica –, Margarida Calafate Ribeiro (2003) e Eduardo Lourenço (2012). Foram indispensáveis, na elaboração da análise, as formulações teóricas de Laurent Jenny (1979) sobre a intertextualidade. Os resultados apontam para a conjugação de feições decadentes na novela: a das personagens portuguesas – que sugere a posição semiperiférica de Portugal – e a do protagonista, o brasileiro, que, desempregado, vai morar na periferia de Lisboa e aceita trabalhar como ajudante de pedreiro. Por fim, consciente de seu fracasso, o protagonista, ao final da novela, dialogando com o poema “Tabacaria”, de Pessoa-Campos, entra em uma tabacaria para comprar cigarros, único alívio para aquele que está cônscio de que falhou em tudo.
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