Neoliberalismo em cena: letramento como agregador de valor a um produto educacional
DOI:
https://doi.org/10.47295/mgren.v12i3.979Palavras-chave:
Letramento, Hipermídia, Educação Mercadológica, E-book, NeoliberalismoResumo
No contexto educacional, a divulgação de materiais educacionais em formato e-book com o intuito de auxiliar o trabalho do professor é comum. Um exemplo disso é o livro digital Introdução ao Letramento: conceitos básicos, como estamos no Brasil e perspectivas para o futuro, produzido pela start up “Letrus” e disponibilizado gratuitamente em seu site. A empresa que o produziu possui uma plataforma online privada autointitulada “de letramento”, que se propõe a corrigir redações de seus usuários, aliando inteligência artificial e feedback humano. Por estar vinculada ao ambiente educacional público e privado, indagamo-nos sobre as relações mercadológicas que poderiam estar envolvidas na produção e divulgação do livro digital em contexto neoliberal que compreendem educação como mercado. Assim, o objetivo deste trabalho foi analisar a possibilidade do referido e-book ser utilizado como estratégia de venda da plataforma de correção textual por meio da articulação do conceito de letramento, recentemente incorporado aos documentos educacionais oficiais, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018). Assim, em consonância com a Linguística Aplicada (Moita Lopes, 2006) e os postulados sobre Edu-business (Ball, 2014), e valendo-se de uma abordagem interpretativista de pesquisa (Denzin; Lincoln, 2000; Lankshear; Knobel, 2008), analisamos recortes do livro digital, considerando as proposições de vários autores (Grupo Nova Londres, 2021; Rojo, 2009; Lankshear; Knobel; Curran, 2013; Street, 2014) sobre Letramentos. Finalmente, a investigação conduzida neste artigo permitiu visualizar a articulação do conceito de letramento como autônomo no e-book, um agregador de valor para a venda da plataforma Letrus e, consequentemente, argumento persuasivo para que isso ocorresse. Além disso, foi possível observar como a ordem neoliberal de edu-business articula a linguagem e a educação com relações mercadológicas, nas quais tudo vira produto, em especial, quando nos referimos à educação pública e visualizamos uma lógica de privatização, oferecendo “soluções inovadoras” para uma possível educação pública ineficaz.
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