O DIÁRIO DE ANNE FRANK EM QUADRINHOS
GUERRA, IDENTIDADE, TEMPO E LINGUAGEM
DOI:
https://doi.org/10.47295.1577Palavras-chave:
Histórias em quadrinhos, Tempo, Identidade, Guerra, Anne FrankResumo
Anne Frank foi uma garota judia que vivenciou os horrores do Holocausto. Por dois anos (1942-1944), ela morou em um esconderijo e registrou seu dia a dia em um diário, postumamente publicado em 1947. Folman e Polonsky recriaram, a partir da linguagem quadrinística, os relatos da jovem. Neste artigo, o objetivo principal é compreender como a Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945) influenciou na formação identitária da protagonista e narradora em O diário de Anne Frank em quadrinhos (Folman; Polonsky, 2018). Metodologicamente, contextualizou-se sócio-historicamente o diário em relação à época. Quanto à linguagem dos quadrinhos, foram considerados: (a) as formas de representação do tempo; (b) o enquadramento, as funções dos quadros e inter-relações. E, com base nas ideias de Bauman (2005), Silva (2014) e Woodward (2014) sobre as identidades humanas, foi feita a análise de oito fragmentos do diário em quadrinhos (olhar interpretativista e por amostragem). A Guerra se destacou como uma força propulsora da crise identitária de Anne a partir da retirada do direito, por exemplo, de posicionar-se como judia, jovem mulher, viver e crescer livremente. Aprisionada e obrigada a conviver com pessoas sem que fossem familiares, constantemente Anne era criticada e comparada à irmã Margot. Os pais e outros adultos diziam como ela deveria agir e pensar. Em meio à Guerra, aos conflitos evidenciados nas relações sociais no Anexo Secreto e aos próprios conflitos internos, Anne estava à mercê de um infindável processo identitário de formar-se, desfazer-se e refazer-se. Tudo isso se materializou na linguagem quadrinística.
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