MARIO LEVRERO

UM "PREGUIÇOSO ILUMINADO"? UMA POSSÍVEL LEITURA D'O ROMANCE LUMINOSO À LUZ DA INUTILIDADE E DO VAZIO

Resumen

O presente estudo objetiva apresentar uma possível leitura para a obra O romance luminoso (2018), de Mario Levrero, à luz das ideias de “inutilidade” e “vazio”, de modo a pensar como a proposta estética do autor, assim como a construção da própria obra, podem apontar para uma ruptura com a lógica produtivista neoliberal, ao mesmo tempo em que dialogam com uma visão algo “mística” do escritor enquanto outsider de um sistema. Partindo do conceito de “vida inútil” de Aílton Krenak (2020), em conjunção com as reflexões de Byung-Chul Han (2021) acerca do produtivismo da sociedade neoliberal e do (possível) papel da Arte enquanto contraposição a essa lógica, propomos uma leitura d’O romance luminoso que enxerga na obra uma perspectiva do fazer literário que, na contramão dos modelos capitalistas de produção e em possível conexão com uma ideia de “vazio” da linguagem – próxima a de certas correntes espirituais, como o taoísmo e o zen-budismo – aponta, até certo ponto, para a posição do autor enquanto “preguiçoso iluminado”, enquanto aquele que, tal como um “místico outsider”, escolhe viver à parte dos moldes impostos pela sociedade de seu tempo, na busca por um caráter “iluminador” da Arte na própria experiência do cotidiano.