A Vida e a Arte de Vanderley Peckovsk
Palavras-chave:
Vanderley Peckovsk, teatro, Cariri, Pesquisa histórica geográficaResumo
A presente escrita se refere à vida e a arte do ator caririense Vanderley Peckovsk, e em como ele inovou o teatro local trazendo sua forma de se expressar, montar e viver seus personagens.
Esse texto tem como intuito narrar a trajetória do ator, diretor, figurinista, cenógrafo, maquiador, produtor e professor Vanderley Peckovsk e sua contribuição para a construção do teatro caririense com sua forma de se expressar e se transformar em palco. Vanderley narra que sentia uma necessidade de estar e fazer arte, levar tudo dele para o palco, se preocupar com o texto e a montagem.
Sua paixão pela arte começou a se revelar ainda criança, ao imitar novelas e criar histórias inspiradas por apresentações de circo. Sua primeira experiência artística ocorreu quando substituiu uma criança doente em um espetáculo circense, marcando o início de sua jornada artística.
Durante um período deixou a arte de lado e retornou durante o período escolar. Na escola onde estudava, Polivalente, era um aluno ativo, estava sempre envolvido em projetos e organizava os eventos e gincanas para os alunos. Foi lá que começou a trabalhar e montar grupos para angariar dinheiro para a escola e também para seguir com sua paixão.
Vanderley enfrentou desafios significativos, incluindo a resistência de sua família, que via o teatro como algo impróprio. Irmão caçula, foi proibido de participar de ensaios, sofreu punições e até foi trancado em casa. Mesmo assim, sua determinação o levou a persistir e conquistar aceitação. Apesar das adversidades, sua maior inspiração veio de casa, especialmente de seu pai, um aspirante a artista que nunca pôde seguir a carreira, mas que influenciou profundamente seu amor pela arte.
Começou então a levar seus números para o público, tendo como palco principal a Praça Padre Cícero, no centro de Juazeiro, e um barzinho chamado Chap Chap. Entre os números mais emblemáticos de Vanderley, destaca-se AIDS, O Pesadelo que é Realidade, uma peça educativa e crítica que abordava temas como drogas e prostituição, personificando a AIDS como a morte e o tempo como conselheiro.
O teatro de Vanderley na época era cômico, feito no completo improviso, onde tudo era feito na hora, sem ensaios, apenas com o estudo da música que iria interpretar. Ninguém sabia o que aconteceria a seguir. Além disso, a construção dos números era totalmente interativa, onde ele interagia com o cenário e as pessoas que passavam, subia em carroças, bicicletas e caixas de som interpretando sua música como ninguém.
Admirador das cantoras de rádio, encenava o quadro das mulheres da época, o sofrimento e o saudosismo envolvidos. Porém, ele não imitava as cantoras, essa não era sua intenção, ele buscava trazer o sentimento dela, a mensagem, o que o levava para a imagem da mulher do passado que ele trazia para o palco na forma do transformismo cênico.
Ainda assim, Vanderley conta que não interpretava qualquer coisa. A música tinha de mexer com ele, pois, além da interpretação de do jogo cênico, tinha o ritmo. Não era simplesmente uma dublagem, comédia ou história, e sim um conjunto que resultava no transformismo cênico e fazia acontecer.
Vivenciando ainda os desafios do final da ditadura militar, passou pela experiência de ser obrigado a apresentar seus textos para a censura antes dos espetáculos e a frustração de ter alguns deles censurados e proibidos de serem apresentados. Porém, não se deixou abater, continuou produzindo seus trabalhos com a cabeça erguida e sem medo e determinação.
Renato Dantas foi fundamental na profissionalização de Vanderley, ajudando-o a conectar seus números e dar coesão às apresentações. Apesar do sucesso inicial, faltava clareza nas mensagens, algo que Renato aprimorou no grupo Livremente, com espetáculos mais estruturados e narrativas completas, em palcos maiores. A parceria entre eles durou até a morte de Renato, em 2024, culminando na realização do espetáculo Juazeiro Míticos e Místicos, último marco da colaboração entre os dois artistas.
Em 2016, Vanderley levou a arte caririense para além do Brasil. Com o espetáculo Retirantes e Meninos de Rua, inspirado em Patativa do Assaré, realizou uma turnê pela Alemanha com a ONG Projeto Nosso Lar. A turnê percorreu 52 cidades, com 104 apresentações, sempre acompanhadas por um tradutor, consolidando seu reconhecimento internacional.
Com mais de 42 anos de carreira, Vanderley é referência no teatro caririense, sendo ator, diretor, figurinista, cenógrafo, maquiador, produtor e professor. Seu trabalho combina inovação artística e compromisso social, levando a arte a públicos marginalizados. Apesar de críticas aos editais contemporâneos, que teme mecanizar a arte, Vanderley permanece fiel à sua essência, provocando mudanças e inspirando novas gerações. Sua paixão pelo ensino e sua conexão com os alunos são elementos centrais de sua vida.