Uma princesa nada boba: um conto de fadas nada branco
DOI:
https://doi.org/10.47295/mgren.v12i3.950Palavras-chave:
Cultura afro-brasileira, Contos de fadas, Princesas negras, Literatura infantilResumo
A literatura constitui potencial para contribuir com a formação do imaginário infantil, propagando por gerações e mundo afora os contos e a cultura popular, os quais, por esse motivo, significam muito em nosso tempo e não por acaso são chamados de “clássicos”. Apesar disso, de acordo com Oliveira (2008), é preciso levar em consideração que a literatura infanto-juvenil se configurou historicamente sob um viés eurocêntrico. Desse modo, ao mesmo tempo em que aflora uma tendência, sobretudo a partir da lei 10.639/2003 e seus desdobramentos, inserindo o negro como protagonista na literatura, ela necessita se adequar às necessidades de leitores/ouvintes, com a devida competência temática e estética. Sob esse viés, o enfoque desta pesquisa reside em compreender de que forma a representatividade feminina negra na literatura infantil se constrói a partir dos elementos africanos e afro-brasileiros presentes na obra Uma Princesa Nada Boba (2011), escrita por Luiz Antonio e ilustrada por Biel Carpenter, sobretudo no que diz respeito à caracterização da princesa – europeia e africana – e ao diálogo entre imagem e texto que se promove nessas duas frentes. Para tanto, lança-se o olhar sob a trajetória da imagem do negro na literatura infantil e os dispositivos legais que culminaram na atualização de clássicos, contando com o aporte teórico de Gouvêa (2005), Jaccoudo (2008), Oliveira (2008) e Gonçalves e Silva (2000). Por fim, foi possível compreender de que forma essa narrativa contemporânea se organiza de modo a inserir aspectos capazes de promover o acesso do pequeno leitor à história e cultura africana e afro-brasileira, a partir da inserção de elementos como religiosidade, força da natureza, magia e ancestralidade.
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