A ÚLTIMA ENTREVISTA DE CLARICE LISPECTOR

UMA ANÁLISE PRAGMÁTICA DOS MOVIMENTOS DE AMEAÇA E PRESERVAÇÃO DA FACE

Resumo

Neste trabalho, filiamo-nos aos estudos pragmáticos de análise da linguagem, para tecermos um diálogo entre a Teoria das Faces, proposta por Goffman (1974, 1981), e a Teoria da Polidez, de Brown e Levinson (1987). Diante de cada um desses construtos teóricos, focamos, respectivamente, a noção de face e as estratégias de polidez. Selecionamos como objeto de análise uma entrevista da escritora Clarice Lispector feita pelo repórter Júlio Lerner, da TV Cultura, em fevereiro de 1977. Tivemos como objetivo geral analisar os movimentos sociointeracionais de preservação da face nesta que ficou conhecida como a última entrevista de Clarice Lispector. Para isso, buscamos identificar atos de fala que supostamente ameaçassem a face da entrevistada, além de verificar as possíveis estratégias de polidez empregadas pela escritora para preservação de sua face. No tocante aos procedimentos metodológicos, nossa investigação é de natureza qualitativa e de abordagem interpretativa. De modo geral, nossos resultados apontaram que, apesar de as respostas de Clarice Lispector, assim como as perguntas a ela direcionadas pelo jornalista, ameaçarem sua face positiva, ela não deixou de empregar diversas estratégias de polidez para preservar sua face positiva e a face positiva de seu interlocutor, adaptando-se ao contexto da entrevista e demonstrando sensibilidade diante das perguntas, principalmente daquelas relacionadas à sua vida pessoal e ao seu fazer como escritora.