A propagação de discursos hostis contra asiáticos amarelos na pandemia de covid-19: uma análise de discursos xenofóbicos em jornais on-line

Autores

DOI:

https://doi.org/10.47295/mgren.v13i2.1458

Palavras-chave:

Asiáticos amarelos, China, Pandemia de covid-19, Discurso xenofóbico, Análise do discurso

Resumo

Durante a crise sanitária mundial causada pela Covid-19, entre 2020 e 2022, circularam na mídia diferentes discursos sobre os chineses, acusados de criar e espalhar o vírus pelo mundo. A hostilidade contra os chineses se tornou mais aparente nesse período e outros sujeitos, asiáticos de diferentes nacionalidades (lidos socialmente como chineses) também sofreram com essa rejeição. O objetivo da pesquisa foi analisar discursos xenofóbicos contra ‘asiáticos amarelos’ no período da pandemia de Covid-19. A pesquisa é de caráter qualitativo, descritivo-interpretativista (Paiva, 2019), sob o aporte teórico-metodológico da análise do discurso francesa a partir da perspectiva dos estudos discursivos foucaultianos (Foucault, 2001, 2008, 2011) em diálogo interdisciplinar com outros referenciais das ciências humanas (Derrida, 2003; Albuquerque Jr. 2016; Bauman, 2017; Di Cesare, 2020). Após as análises, entendemos que os discursos xenofóbicos contra chineses foram propagados em diferentes espaços de circulação, desde os governamentais aos midiáticos incluindo a sociedade civil. Concluímos ainda que grupos de brasileiros, de ascendência leste-asiática, também são interpelados por discursos hostis por serem lidos socialmente como chineses. O estudo aponta para a necessidade de aprofundamentos do tema em relação à retórica da hostilidade brasileira em perspectiva histórica de média e longa durações.

Biografia do Autor

Esther Yuri Matsuo, Universidade Federal de Sergipe

Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Sergipe. Co-idealizadora e co-fundadora do Grupo de Estudos sobre o Leste Asiático, GELA, pesquisando sobre os temas de sinofobia, imigração japonesa, yellow pearl e xenofobia durante a pandemia de Covid-19.Pesquisadora bolsista CNPq de Iniciação Científica no Laboratório de estudos de discurso, história e estrangeiridades (imaGine/UFS).

João Paulo Santos Batista, Universidade Federal de Sergipe

Mestrando em Estudos do Discurso pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Sergipe (PPGL-UFS). Graduado em Letras Português (DLEV-UFS-2022) na Universidade Federal de Sergipe. integrante do grupo Imagine (Laboratório de Estudos de Discurso, História e Estrangeiridades) pesquisando acerca de questões ligadas a xenofobia, racismo, migrações e discursos. 

Jocenilson Ribeiro, Universidade Federal de Sergipe

Professor Adjunto na Universidade Federal de Sergipe(UFS), Campus São Cristóvão, atuando na graduação do Departamento de Letras Vernáculas (DLEV) e no Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL/UFS). Tem Mestrado e Doutorado em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar/2015) e Licenciatura em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS/2008). Realizou estágio doutoral em Paris pela Université Sorbonne Nouvelle-Paris III sob orientação do Prof. Dr. Christian Puech (2012-2013). É Líder do imaGine/CNPq - Laboratório de estudos de discurso, história e estrangeiridades,

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Publicado

2024-09-03

Edição

Seção

Artigos - Estudos Linguísticos