"Estou exuberante de memória": velhice feminina e exercício confessional em The Stone Angel, de Margaret Laurence

Resumo

Este estudo objetiva examinar aspectos da velhice feminina e de práticas rememorativas empreendidas por meio de exercício confessional disposto no romance The Stone Angel ([1964]1988), da escritora canadense Margaret Laurence. A narrativa apresenta a trajetória de vida de Hagar Shipley, uma mulher de noventa anos que empreende exercícios sistemáticos de rememoração de suas vivências. Ao recordar eventos que se estendem da infância à chegada da velhice, a narradora-protagonista faz uso do tom confessional, desnudando-se aos olhos do leitor. Para discutir a experiência rememorativa da personagem, que é mesclada a aspectos relacionados ao presente da narrativa, recorre-se à análise crítica desenvolvida por Brenda Beckman-Long (1997). Ao longo do exame da caracterização da protagonista e de suas relações com o entorno dialoga-se, também, com  proposições teóricas formuladas por Ecléa Bosi (1994) e Norberto Bobbio (1994) acerca das práticas rememorativas desempenhadas por pessoas idosas. Recorre-se também ao estudo de Simone de Beauvoir ([1970]2018) sobre a experiência da velhice, à reflexão de Jean Améry (1994) sobre a melancolia experimentada pela pessoa idosa, à perspectiva de Julia Kristeva ([1988]1994) a respeito do sujeito que, não tendo necessariamente se deslocado para outro espaço geográfico, percebe-se estrangeiro, e à discussão proposta por Marcela Kafková (2016) acerca da transição da terceira para a quarta idade.